Reabro um blog tão antigo pra um momento de epifania: quero levar essa estante comigo. Daqui a um ano, estarei morando do outro lado do mundo. Quero levar comigo: essa estante.
A vida imaterial também é física; por muito tempo, minha música preferida foi Roda Viva, provavelmente pelos inúmeros momentos de epifania em que minha mente escolhe ela como trilha sonora. Dessa vez não foi diferente, mas fazia tempo não era assim.
Essa estante talvez seja a minha barata de Clarice Lispector, a minha subjetividade. Meu andar no corredor do ensino médio carregando um livro, meu amar secretamente, meu chorar amargo, meu sorrir feliz. Tem diários, tem agendas antigas, tem estrutura desenhada por amiga. Tem amigas que não estão mais perto, mas ainda moram na estante e no coração. Viu como a estante sou eu?
Tem meus hobbies, meus momentos, minhas fantasias. Tantas memórias. Pastas e apostilas, minha formação de pensamento passando por cada coisa nessa estante. Faz tempo que eu cultivo a mais linda roseira que há, mas eis que chega a roda viva, na imagem de: estante. Parece uma coisa tão pequena.. e é. São sempre as pequenas coisas que mais me atraem: pequenas cápsulas de infinitos significados.
Tem presentes, amigos presentes, amigos que apenas passaram, e não de menos valor. Tem meus sempre amigos: minha família. Muita fotografia, muita tralha (ai como eu amo tralha!), tem bravo! (sdds bravo!), toda minha faculdade, tem Pravida, tantos filmes, tantos livros, CDS antigos... Quero levar essa estante comigo - uma lágrima escorre do meu olho.
Por muito tempo foquei na roda viva levando a saudade, e a música preferida mudou. Hoje quero conhecer as manhas e as manhãs, o sabor da massas e das maçãs. "Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente", eu canto pra mim mesma.
Se a estante sou eu,
Eu sou a estante. Eu me levo comigo sempre. Levo tudo, levo estante, levo memórias, amor, amizades, tudo, não posso me deixar pra trás - "pela longa estrada eu sou, estrada eu vou".